Reflexões sobre a enfermagem e a política de transplantes de órgãos


25.10.2013

Michel Vieira Araújo*

O transplante é um procedimento de alta complexidade e exige capacitação adequada e atualizações periódicas dos recursos humanos dedicados a essa atividade. Todas as etapas envolvidas necessitam ser bem executadas e articuladas entre si, desde o momento em que se confirma o diagnóstico de morte encefálica, até o implante do órgão no receptor, sendo que todo o processo deve ser desenvolvido em poucas horas (VILAÇA ;2006).

A perda de uma pessoa com quem se tem laço afetivo é um momento desgastante, uma experiência marcante e por vezes, alcança níveis elevados de estresse. Verifica-se que os profissionais de enfermagem são o elo entr’’e a família e a instituição hospitalar. São, além disso, os profissionais que mais tempo passam junto ao leito do paciente, neste caso, potencial doador e seus familiares. Esta proximidade muitas vezes faz com que a família sinta-se mais a vontade para solicitar informações e esclarecer dúvidas.

A equipe de saúde, e em especial o enfermeiro da Organização de Procura de Órgão (OPO), deve saber que a satisfação da assistência prestada durante a internação, o esclarecimento de dúvidas que surgem quanto à Morte Encefálica e a liberação do corpo são fatores imprescindíveis, devendo oferecer suporte e esclarecimentos para diminuir a dor e o sofrimento da família do doador (CINQUE; 2010).

Verifica-se que há uma carência de material e pesquisa que relate doação de órgão e enfermagem, sendo a resolução do COFEN 294/2004 tomada como base legal norteadora da atuação profissional nessa área de trabalho. Verifica-se que com a legislação vigente sobre doação de órgão, a OPO e a Comissões Intra-Hospitalares de Doação de Órgãos e Tecidos para Transplante – CIHDOTT – são campos de atuação de Enfermeiros que podem, inclusive, virem a ser Coordenador de CIHDOTT.

A assistência de enfermagem prestada ao doador de órgãos tem como objetivo a viabilização dos órgãos para transplante, bem como a necessidade de permanência do doador em unidade de terapia intensiva, até a retirada dos órgãos, sendo que a assistência de enfermagem deve atender às necessidades fisiológicas básicas do potencial doador, dentre todos os cuidados. Cabe ainda ao enfermeiro a incumbência de aplicar a Sistematização da Assistência de Enfermagem (SAE) em todas as fases do processo de doação e transplante de órgãos e tecidos, ao receptor e família, que inclui o acompanhamento pós-transplante (no nível ambulatorial) e transplante (intra-hospitalar) (Resolução COFEN 292/2004).

Nota-se que na estrutura da OPO as atividades estão centradas na atuação do enfermeiro, o qual concretiza a doação por meio de um trabalho de elevado nível de qualidade e de ética. Contudo não basta que esse profissional tenha o domínio técnico cientifico da questão, são necessários outros quesitos, dentre os quais características pessoais, como empatia, sensibilidade, disponibilidade de compreender sentimentos alheios e facilidade de adaptar-se a situações novas e contextos diferentes (PERNAMBUCO, S/D).

Verifica-se que o enfermeiro que faz parte da OPO realiza visita diária aos locais de maior possibilidade de encontrar possíveis doadores (unidade de terapia intensiva e de recuperação pós-anestésica, além de prontos socorros), como também aguarda a notificação sobre possíveis doadores, sendo que uma vez identificados ou notificados, inicia-se o processo de entrevista familiar e de captação (CINQUE; 2008).

Em relação à abordagem familiar, o enfermeiro deve apresentar, além do conhecimento científico referente ao quadro clínico, um preparo emocional que lhe permita lidar com as diferentes reações dos familiares diante da perda, de modo que estes compreendam a morte encefálica e aceitem a doação de órgãos como um ato humanitário (GIOVANI, SANTOS & CROCI, 2000).

Em relação à atuação do enfermeiro no programa de transplantes, pode-se destacar dois tipos de atuação de enfermagem: o enfermeiro clínico e o coordenador de transplante. O primeiro é responsável por promover os cuidados de enfermagem a candidatos e receptores, aos doadores de órgãos vivos e falecidos e seus familiares ou cuidadores. O enfermeiro coordenador de transplante tem a função de gerenciar o programa de transplante, coordenando as diversas etapas que compõem o período perioperatório a longo prazo, além de promover o cuidado a candidatos e receptores quando necessário (ROZA; 2012).

Percebe-se que frente à realidade da saúde publica no Brasil é importante que a enfermagem esteja atenta à sua prática profissional, pois falar de doação de órgão é ter uma atuação que contemple planejar, executar, coordenar e supervisionar os procedimentos de enfermagem prestados aos doadores de órgãos e tecidos (COFEN, 2004). A entrada do profissional de enfermagem como membro da OPO permitiu um ganho muito grande ao programa, visto que o enfermeiro é um profissional capacitado para atuar neste contexto e é um dos responsáveis pela entrevista à família.

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*Enfermeiro, com especializacao em Metodologia do Ensino e Extensão em Educação pel Uneb
Especializando em Saúde coletiva pela FTC
Atuando na Sesab, na Coordenação de Transplantes (Diretoria de Atenção Especializada)

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